Inveja: O mal súbito dos vilões


[...] ciúme é querer manter o que se tem; cobiça é querer o que não se tem; inveja é não querer que o outro tenha. [...] 
Começo o post de hoje com uma citação de Zuenir Ventura em seu livro Inveja, Mal Secreto da coleção Sete Pecados Capitais. E escolhi tal “crime” por estar tão em alta na teledramaturgia contemporânea. Os maiores vilões das novelas de hoje em dia sofrem do mal da inveja, de não querer que os “mocinhos” tenham o que eles não conseguiram ter. 

Pra começar, nem a novela teen Malhação escapou desse mal súbito. A vilã da temporada, Sofia (Hanna Romanazzi) demorou a demonstrar algum afeto por Ben (Gabriel Falcão), que sempre se mostrou interessado nela. Mas ele era pobre demais, e isso era um empecilho, até que surgiu Anita (Bianca Salgueiro), a irmã de Sofia na "jogada". Isso foi o estopim pra moça ver que simplesmente gostava do Ben, assim, do nada! Tal situação demonstra a inveja da moça, que fez mover céus e terras para que os dois não pudessem ficar juntos. 
Em Joia Rara, vemos no olhar psicótico de Manfred (Carmo Dalla Vechia) todo o sofrimento de não conseguir a aceitação de Ernest (José de Abreu) como seu pai, mais do que isso, agora ele parece insatisfeito em não conseguir o amor de Amélia (Bianca Bin). Parece estar sempre em busca do que pertence ao Franz (Bruno Gagliasso), seja no âmbito familiar, seja no sentido amoroso. Afinal, ele ama Amélia? Ele queria ser visto como um filho pelo mau caráter? Ou ele simplesmente queria que Franz sentisse a mesma dor que ele? Tentou separá-lo de Amélia e torna-lo rejeitado pelo próprio pai; com um simples intuito de não deixar Franz ter o que ele não conseguira ter. 
Num tom mais irônico e quase irreal, a “vilã” de Além do Horizonte, Inês (Maria Luiza Mendonça) é outra que sofre desse mal silencioso. Bom, no caso dela nem chega a ser silencioso, já que ela esbraveja pelos quatro cantos sua insatisfação com a relação entre o marido e Heloísa (Flávia Alessandra). Inês está sempre amarga e fazendo de tudo para que Thomaz (Alexandre Borges) não venha se encontrar com a “cozinheira”. Outro dia, ela demonstrou escancaradamente sua inveja em relação à rival, tentando fazer uma receita apresentada pela própria. Resultado: Frustração plena. 
Enquanto isso, mesmo passando por uma fase de regeneração, o personagem Félix (Mateus Solano) é talvez o maior exemplo de invejoso da teledramaturgia. Na cena icônica da novela, em que ele revela ter jogado a sobrinha numa caçamba de lixo, ele alega que sempre odiou a irmã por ter o amor do pai, coisa que ele nunca soube do que se tratava. Em suma, sua rivalidade com Paloma (Paolla Oliveira) ia muito além de uma mera disputa por herança, era algo mais intrínseco, mais psicológico, mais subjetivo do que se imaginava. 

Com o passar de Amor à Vida, percebemos um dos personagens com mais traços humanos da novela, onde sentíamos nele uma raiva motivada, um rancor desmedido, porém com certo propósito. Tudo ficou mais claro quando seu pai escrachou diante do país que nunca gostou dele, pelos trejeitos, pela ligação tão intimista com a mãe. 
Tal sentimento não é visto apenas hoje nas novelas, mas faz parte de uma gama enorme de tramas que se desenvolvem basicamente em torno desse “sentimento”. Outro dia, lendo sobre tal assunto, achei engraçado quando me deparei com a reflexão de que a inveja não teria tamanho peso negativo se fossemos mais sinceros e assumíssemos que em algum momento de nossas vidas já fomos invejosos. E não deixa de ser a mais plena verdade, levando em conta que quem nunca sentiu inveja, está mentindo. Mas até que ponto essa inveja é saudável - se é que pode, alguma vez, ser considerada saudável -, já que é sempre dirigida a alguém? Não querer que o outro tenha é uma coisa, mas usar de meios extremos para fazer com que o outro não tenha determinada coisa, talvez seja a linha tênue entre o aceitável e o psicótico, no quesito: inveja. 

Fonte das imagens: TV Globo, Extra/O Globo