Além do Horizonte: Essa tal felicidade




Pelo visto - e pelos números -  a atual trama das sete não agradou. Quando se deram as chamadas, eu já esperava que ela não iria engrenar, afinal tinha uma proposta inovadora. Não trazia os clichês do horário, como núcleos cômicos (e surreais), e vinha com uma história um tanto quanto complexa. Mami poderosa mesmo, por vários dias, me disse: _Que novela estranha, não dá pra entender nada! E olha que ela tem anos de estrada no ramo da teledramaturgia. Por fim, tenho que concordar, a história é meio "anormal", se compararmos com a antecessora que abusou dos clichês. Hoje, porém, não estou aqui para discutir se o público gostou ou não, já que imagino a resposta, mas para mostrar que essa novela vai muito além de uma simples história de novela. A trama cabe muito bem nos dias de hoje, por tratar dessa infinita busca pela felicidade. Considerando tal "sentimento" como algo concreto, os autores quiseram mostrar como a sociedade de hoje vive em busca de uma mera satisfação pessoal, como pudesse ser feliz durante todos os momentos da vida. Sabemos que as coisas não funcionam dessa maneira, mas que atire a primeira pedra quem nunca quis ser feliz 100% do tempo! Então, creio eu, que a novela se passe num momento relevante da sociedade, já que estamos sempre colocando em pauta "o que vem a ser a felicidade?". Ao mesmo tempo que se trata dessa busca pela satisfação, vemos uma gama de personagens melancólicos, como se todos precisassem encontrar esse caminho, esse lugar misterioso onde se pode apalpar a felicidade. Heloísa (Flávia Alessandra) nunca compreenda os reais sentimentos da filha, é distante da mesma e parece que vive sofrendo por ter abdicado do amor de Thomaz (Alexandre Borges). Ele é outro que é amargurado por não ter vivido seu amor com a mãe de Lili (Juliana Paiva) e por manter o casamento com a bêbada entediante Inês (Maria Luísa Mendonça). Esta, por sua vez, não poupa em demonstrar sua revolta com o marido ao perceber que sempre foi a segunda opção dele. 

E o núcleo jovem não escapa dessa melancolia, afinal, Lili vive às turras com seus próprios sentimentos. Não sabe se acredita no pai, se ele é bom ou ruim, não sabe se gosta do Marcelo (Igor Angelkorte) ou de William (Thiago Rodrigues). E diante de tanta dúvida ela se torna temperamental, cabisbaixa. Rafa (Vinicius Tardio) também nunca engoliu o fato de ter sido abandonado por Paulinha (Cristiana Ubach), que foi em busca da tal felicidade. Ele então se tornou um personagem pesado, denso, tristonho e, claro, melancólico. Fugindo do núcleo central da trama, tem o delegado André (Caco Ciocler), que vive um casamento de aparência, afinal divide apenas o mesmo apartamento com a esposa, talvez por conta dos filhos. Mas muito além disso, o personagem é talvez um dos maiores exemplos de desânimo da novela. Eles nunca dão grandes gargalhadas, como era típico em Sangue Bom, e a própria novela traz um tom sombrio. Talvez esse fator seja uma dos pontos prejudiciais para a trama, mas mesmo assim, se torna interessante no sentido paradoxal do conceito. Afinal, uma novela em que se busca tanto a felicidade, trazer personagens tão melancólicos parece ser uma grande tática dos autores. 


Fonte das imagens: UOL, O Globo