Nem mocinhos, nem vilões... Os surtados de "Amor à Vida"


Amor à Vida entra em seu último mês sem aquele gostinho de "quero mais". A trama de Walcyr Carrasco foi uma das que mais prometeu e menos cumpriu - e olha que tem Viver a Vida nesse meio pra fazer escola. Grandes histórias, ótimos personagens e um autor que se perdeu em meio a tudo isso. Mas eu não estou aqui para criticar o autor, sem mostrar meus argumentos. Na realidade, criticar não é minha meta, mas como analista de discurso, pretendo "analisar" (meio óbvio, né?!) esses personagens que sofreram mais desvio de caráter do que político em absolvição. E como Walcyr adoooooora um personagem caricato e um belo estereótipo, vamos julgá-los sem pudores e sem medo de ser feliz... 

Amarilys, Niko e Eron: A falsa, o sonso e o insatisfeito.


Tudo era lindo, tudo era flores. Até que um belo dia, Amarilys (Daniele Winits) resolve surtar e se "apaixonar" por Eron (Marcello Antony), levando o rapaz inclusive pra cama. Claro, sempre alegando que era pro bem do Niko (Thiago Fragoso) - porque fazer picaretagem e alegar que é por amor, é algo recorrente nessa novela. Depois disso, a mulher surtou, saiu descontrolada, bateu o carro, estendeu seus dias de repouso e agora planeja roubar o filho daquele que, segunda ela mesma, era seu MELHOR AMIGO. 
Vamos agora nos voltar para a tal verossimilhança, que povoa a teledramaturgia atual - ou pelo menos, tenta povoar, rs -; sabemos que durante a vida vivemos grandes mudanças de comportamento, e isso não se dá apenas por pequenas ou grandes mudanças físicas, mas por pessoas que entram em nossas vidas, por perdas e ganhos pelos quais passamos. Amarilys ganhou um novo lar, rodeada de carinho e amor - coisas que pareciam ausentes na vida dela. Mas suas atitudes a encaminharam quase para uma visão de psicopata. Porque? Simples, se consideramos tanto uma pessoa, como ela considerava Niko, e nos apaixonamos pelo seu parceiro, alguma sinal de culpa cairá sobre nossos ombros. E ela nunca demonstrou isso, como se não tivesse sentimento; com tamanha apatia, Amarilys poderia entrar pro hall dos psicopatas da ficção, não fosse o fato dela dizer que ama tanto Eron - mas sendo escrita por Walcyr, nunca saberemos se é amor ou cilada, cilada, cilada. 
Mas ainda acho que mais asqueroso que a "falsa amiga", foi mesmo Eron. Se dizia apaixonado, queria formar uma família com Niko, e da noite pro dia, passa a se relacionar com uma mulher embaixo do próprio teto do "amado". O autor tentou justificar em vários momentos, alegando que ele tentou buscar um equilíbrio no San Magno, com um chefe tão homofóbico quanto César. Mas não colou! Ele fez e de arcar com as consequências, afinal, os relacionamentos não devem ser comparados à roupa velha, que você joga fora quando enjoa. E pra mim essa foi e está sendo novamente a atitude de Eron. Mas essa transição do personagem não se deu de forma plena, ela aconteceu meio truncada, onde ele foi forçado a escolher. E se não houvesse essa "forçação de barra"? Ele ainda estaria com os dois? Seria Eron e Amarilys, bipolar e psicopata, respectivamente?! 

Thales, Leila e Natasha: O bipolar, a psicopata e a inexperiente. 


Taí outro núcleo bem questionável né?! Isso quando aparece na novela, porque chegam a passar meses sem dar a cara na telinha. Enfim, vamos ao que interessa, o julgamento dos seres. Thales (Ricardo Tozzi), ao meu ver, só se apaixonou mesmo por Leila (Fernanda Machado), afinal, ele faz tudo que a megera manda. Mas durante seu percurso, o belo escritor frustrado se deparou com N sentimentos, ora diz amar Nicole, ora permanece com o plano maquiavélico de se casar com a moça para pôr a mão na fortuna. Thales pode entrar pro time do Eron e juntos cantarem a digna música do tio Sílvio: Não sei se vou ou se fico, não sei se ficou ou se vou, se vou não sei se eu fico, se fico não sei se eu vou! Mas daí lhes pergunto: Se ele tivesse amado Nicole (Marina Ruy Barbosa) de verdade, estaria agora apto a cometer o mesmo erro? Bom, qualquer ser humano comum diria que não, mas para Thales, "rei morto, rei posto". 
Natasha (Sophia Abraão) é outra sonsa mocinha que deveria abrir os olhos pra realidade. Queridã, você não tem mais 17 anos para fugir de casa às 7 horas da manhã do dia errado se envolver com amores bandidos, nem se fosse a Britney (vulgo Neyde), eu te perdoaria. Então podia aprender com a vida, como uma bela mulher de quase trinta anos e entender que antes um "amor" pleno do que uma paixonite de adolescência - até porque você já passou da idade, né fia?! 
Quanto à Leila? Essa sim é psicopata de carteirinha, afinal, só Thales não vê que ele é só mais um estepe nas mãos da megera e que a qualquer momento, ela fará ele provar do próprio veneno e ter o mesmo fim que Nicole, o fantasminha camarada. 

Patrícia e Michel: Os ninfomaníacos.


Lhes pergunto: Qual a função de Patty (Maria Casadevall) e Dr. Michel (Caio Castro) nessa novela? CO-PU-LAR. Sim, caro leitor/telespectador, eles só fizeram sexo na novela inteira. Nem dilemas, nem crises de identidade, nem grandes histórias os envolvia, apenas noites em motel, carro, quarto de repouso, elevador, etc. Globo gastou mais locações para arrumar lugar para os dois fazerem sexo do que com o resto da novela inteira. Em suma, sexo, transa, cópula, coito, rapidinha, acasalamento, "nhanhá", etc.

O Rei do Gado e a Cabocla César e Aline: O velho safado e a vingativa vagarosa.


Mas o troféu em desvio de caráter vai para nosso amado César (Antônio Fagundes), o pai de metade da novela e personagem mais 'non sense' de toda dramaturgia brasileira. Mais do que um mero "velho safado" (saudade: Flora), ele simplesmente prefere acreditar numa recém conhecida do que na própria filha, pela qual morria de amores, meses atrás. Claro, né, paixão deixa a gente assim! Ainda mais quando ela vem de um homem de sessenta anos por uma mocinha de trinta, puffffff'
O que Walcyr Carrasco fez foi só deixar literal o que já era figurado, né?! César já era cego antes, só ele num via que a Aline (Vanessa Giácomo) tramava embaixo dos seus próprio olhos. Para num ficar muito chato - porque já estavam falando, rs - Walcyr resolveu deixar o César cego de verdade, para dar um pouco de verossimilhança que faltava, mas só um pouco tá gente?! #PatrickIrônico
Mas César dispensa comentários né?! Então vamos à ela, a Nina/Rita da vez, Aline! Agora, se todos achavam que a vingativa de Avenida Brasil demorou muito para por a mão na massa, o que dizer de Aline que esperou, literalmente, um filho para se vingar do melchior malfeitor (Saudade: Chaves). Agora me fala, você, ser humano comum, gentem como a gente, aguentaria conquistar, transar, ser fingida cazamigas (lembrando que ela fingiu ser amiga da vó Bernarda), casar, engravidar, esperar o filho nascer, dar fermento pro marido ficar cego e ainda cuidar dele, tudo pra se vingar? É, se vingança é um prato que se come frio, da Aline já virou sorvete, né?! 

Félix: O regenerado.


Acho que ele merecia um post especial, mas vai por aqui mesmo - porque estou enjoado de falar dessa novela infinita. Félix foi gay, depois não foi mais; foi vilão, depois não foi mais. Enfim, o personagem que tinha tudo para ser o ícone da novela e de toda teledramaturgia, por ser o primeiro vilão gay de telenovela, acabou se tornando mais um frustração para nós, noveleiros. Mas ao mesmo tempo, foi um dos personagens mais reais, mais palpáveis (no sentido figurado, claro) de Amor à Vida. Vimos nele o motivo por ser como é, não como justificativa, mas como uma forma de esclarecer ao público o porque dele odiar a irmã, dele querer a diretoria do hospital da família. De qualquer forma, o vilão que tinha todas as caraterísticas possíveis de passiva gay, acabou se tornando meio bissexual, meio mau caráter, mas nunca o foi por inteiro. Félix nunca esteve por inteiro na história, Walcyr criou um meio personagem. Com a novela se aproximando do fim, não sabemos se podemos confiar em Félix ou não, não sabemos se ele gosta de beijar apenas rapazes ou faz a linha Renato Russo e "gosta de meninos e meninas". Quem foi Félix, quem é Félix? Ao que parece, ele se tornou tão amado de Walcyr, que para não precisar puni-lo, acabou fazendo com que o personagem se regenerasse e buscasse a luz divina e o perdão dos seus. Isso ocorreu há pouco com Amora (Sophie Charlotte) em Sangue Bom. Os autores criam vínculos com os personagens, mas parece que ultimamente, o vínculo está sendo maior, quase um relacionamento sério, e eles acabam tendo dó de dar aos vilões o que lhes é de direito: a punição. Como eu já disse acima, mudanças sempre ocorrem, ninguém é bom o tempo todo, nem mau. Mas a mutação de um ser que joga bebês em caçamba para um amoroso cuidador de criancinhas solitárias (Mary Jane, no caso), em questão de semanas é demais né?! 


Ordália: Ou ordinária


Ordália (Eliane Giardini) era aquela mãezona de novela, que tomava conta de todos os filhos, queria eles debaixo de suas asas e blá blá blá. Até que Walcyr chegou como quem não quer nada e a transformou em uma mulher pequena, que se humilha por um amor do passado e que é capaz de colocar esse homem à frente de sua própria filha. Pior do que isso, ela finge que nada aconteceu diante dos olhos de Gina (Carolina Kasting). Bom, posso estar sendo ressentido, rancoroso e talz, mas eu nunca perdoaria minha mãe, por dar um escândalo que eu não podia me envolver com um homem porque ele é mau caráter, porque a iludiu, etc., sendo que meses depois ela começa a se envolver com o mesmo homem. Fura olho é pouco pra querida Ordália, que também sofreu com as mudanças de temperamento do amado Walcyr Carrasco. De boa mãe a mulher desesperada, Ordália sai de Amor à Vida como mais uma das ordinárias dessa novela. 

Dentre tantos tipos esdrúxulos nessa novela, salvam-se exceções como Valdirene (Tatá Werneck), que sempre prezou por uma vida de sucesso e que mesmo atingindo a riqueza, como lhe parecia ser de valia, ela queria mais e foi buscar num reality show. Em nenhum momento, a personagem mudou de sentimento, mudou de comportamento e apesar das críticas à respeito das repetições na história da personagem, ela seguiu coerente durante toda a novela. Assim como Edith (Bárbara Paes) e sua mãe Tamara (Rosamaria Murtinho), que permaneceram a novela toda como duas sangue-sugas. Bom, claro que além desses tipos citados, existiram outros personagens coerentes, que fizeram sua jornada, senão lindamente - que é difícil isso nessa novela -, acabaram por cumprir sua meta na trama. E não se tornaram mais vítimas do desvio de caráter que o autor estabeleceu para seus personagens. 

Fonte das imagens: TV Globo