Os mocinhos "bebezões" de Maria Adelaide Amaral



Longe de ter uma longa carreira em telenovelas, a autora Maria Adelaide Amaral teve em Sangue Bom (2013) sua grande estreia como autora titular de uma obra original. Suas outras tramas foram Anjo Mau (1997) e Ti Ti Ti (2010), ambas adaptações de seu mestre, Cassiano Gabus Mendes. Ela já escreveu também grandes adaptações para minisséries épicas, que estão dentre os melhores trabalhos da emissora. Mas o ponto de discussão em questão gira em torna das suas novelas, mais precisamente, em torno de seus “mocinhos”. 
Atualmente no ar, pelo Canal Viva, a novela Anjo Mau nos mostra quão passivo é Rodrigo (Kadu Moliterno) diante de mulheres tão temperamentais e decididas. O rapaz é enganado por Paula (Alessandra Negrini), cai nas lábias de Nice e, já até foi alvo da sonsa Lígia (Lavínia Vlasak). Chega a ser irritante ver ele em cena, sem saber em quem acreditar, que decisão tomar, seja com relação às mulheres, seja com relação aos negócios da família. Tal situação já foi motivo de chacota até nas redes sociais, por parte daqueles que acompanham a novela no canal pago. 

E sua segunda trama/adaptação, Ti Ti Ti, não foi muito diferente. Só tirou a tonalidade de “banana” dos mocinhos, mas deu a eles um jeito mais “crianção”. As brigas de Jacques Leclair e Victor Valentin era sim engraçadas, longe de mim criticar tamanha criatividade, mas não deixava de transformar os personagens em duas crianças birrentas que não queria perder o brinquedo para o amiguinho. No outro núcleo de protagonistas, vemos a mesma situação, em especial por parte do personagem Renato (Guilherme Winter). Ele perdeu o amor de Marcela (Ísis Valverde), depois de desconfiar que ela quisesse apenas lhe dar o golpe da barriga, interessada em sua fortuna. E Edgar (Caio Castro) não foi muito diferente no quesito “moleque birrento”. Ele não aceitava perder Marcela, e fez o que? Bico, saiu bebendo, pegando quem aparecesse na sua frente, em especial a maior inimiga de Marcela, a psicótica Luísa (Guilhermina Guinle). 

Pra finalizar a curta saga de Maria Adelaide Amaral, temos a recente Sangue Bom, e o troféu de mocinho mais banana de toda teledramaturgia: Bento (Marco Pigossi). Quando toda a novela já sabia do caráter duvidoso de Amora (Sophie Charlotte), ele ainda acreditava nas histórias sem pé, nem cabeça da it girl. Cheio de caras e bocas, o personagem conseguiu ser o mais “imbecilizado” da novela, de longe – e olha que os personagens masculinos da autora sempre têm um ar de retardatários e irresponsáveis. 
Sabemos que não é de hoje que os personagens femininos são destaques em telenovelas, mesmo não entendendo o real motivo – já que com e evolução do tempo, se comprova tamanha quantidade de público masculino das teledramaturgias. Porém, tem certos autores que extrapolam e constroem tipos masculinos tão caricatos e irreais que chega a causar incômodo em nós, homens. Seríamos nós, seres infantilizados, que nunca largaram a “mordomia da casa da mamãe”, que não sabemos lidar com sentimentos e até mesmo com pessoas? Ou será que Maria Adelaide precisa ser mais imparcial no seu olhar a respeito da figura masculina em suas tramas?