Mini-Flashback: Roque Santeiro


Com muita satisfação eu finalizo 2013 com o maior sucesso da teledramaturgia brasileira. Escrita por Dias Gomes em parceria com Aguinaldo Silva, a novela conseguiu atingir índices inimagináveis de audiência e ser considerada a trama com mais auto número de IBOPE até hoje. A trama teve direção de núcleo de Paulo Gracindo, mas contou com grandes diretores da atualidade como Jayme Monjardim e Marcos Paulo. A abertura mostrava cenários brasileiros e a população, como em miniaturas, percorrendo frutos, flores e animais, ao som de um sucesso de Moraes Moreira. Confira:



O falso santo e a viúva que foi sem nunca ter sido. 

Era uma vez... um coroinha que acabou morrendo durante um ataque de Navalhada (Oswaldo Loureiro), um temido bandido da região de Asa Branca. Ele morreu tentando defender a cidade da fúria do vilão, ao menos era isso que alegavam pelas bandas da cidade. Desde então começaram a aparecer supostos milagres relacionados ao coroinha, como se ele tivesse se tornado um santo, o Roque Santeiro. Na realidade, ocorreu apenas um milagre, o de uma garota que alegava ter visto Roque depois do atentado, e não era pra menos, já que o garoto tinha, assim como toda a população, fugido da cidade e não estava morto. Porém, teve quem se aproveitasse da situação, como a falsa viúva, Porcina (Regina Duarte). Ela se uniu ao famoso fazendeiro e político da região, Sinhozinho Malta (Lima Duarte), com quem tinha um affair. Sinhozinho sempre contribuiu para o avanço da história do falso santo, com o intuito de trazer mais romeiros para a cidade. Ele e Porcina tinham uma relação cômica e infantilizada, ao mesmo tempo se tornava algo impensado pelos moradores de Asa Branca. Sinhozinho, sempre impondo seu jeito de pensar e agir, acaba se tornando, literalmente, um cachorrinho nas mãos de Porcina. 

Fonte: Memória Globo

Tudo ia bem nas redondezas, até que, anos depois, ressurge o suposto santo, vivo. Roque Santeiro (José Wilker) resolve retornar a Asa Branca, para desespero de políticos e religiosos. Então, são feitas reuniões com o propósito de frear a notícia de que Roque não é santo e nunca morreu em prol da cidade. Enquanto isso, todos tentam ludibriar o rapaz, para que ele permaneça escondido de toda a população e persevere a história do milagreiro. 

Fonte: Programa Atualize

Mas quem vê sua vida revirada é Mocinha (Lucinha Lins), a verdadeira noiva de Roque, que permaneceu anos casta, a espera de seu amado. Ela é filha do prefeito Florindo (Ary Fontoura), e da católica fervorosa, Pombinha (Eloísa Mafalda), que são contra Roque assumir sua verdadeira identidade e acabar com os turistas da cidade.

Fonte: UOL

Mocinha então se vê encantada novamente por Roque, o que causa o desespero no professor Astromar (Rui Resende), seu eterno apaixonado. Ele é culto, sempre com o dom das palavras, mas esconde um grande mistério - nem tão grande assim, porque a cidade inteira suspeita -, se tornando um lobisomem em noites de lua cheia. 

Fonte: Memória Globo

A saga de Roque na tela do cinema.

A história do santo causava tanta balbúrdia que virou assunto da sétima arte. Um grupo de atores, produtores e diretores desembarcou na cidade com o intuito de contar a saga de Roque Santeiro. E tal feito causou um rebuliço na pequena Asa Branca, com tantas "caras novas". Destaque no grupo para o ator Roberto Mathias (Fábio Jr.) que daria vida ao protagonista da história. 

Fonte: IG

O bonitão acaba se envolvendo com várias mulheres da trama, dentre elas, a viúva Porcina. Ele é "casado" com Marilda Mathias (Elizângela), porém, depois de tantos "chifres", a mulher acaba se envolvendo com o temeroso Sinhozinho Malta. Com isso, ela engravida e não sabe mais se o pai é seu marido ou o fazendeiro de Asa Branca. 

Fonte: UOL

Outra que se destacou no comboio foi Linda Bastos (Patrícia Pillar), que daria vida à viúva Porcina. Ela sofria constantemente com os ciúmes do marido, Tito (Luiz Armando Queiróz), que não aceita bem o fato dela fazer cinema. 

Fonte: Memória Globo

O milagre de Lulu. 

Lulu (Cássia Kiss) é a tal menina que vivenciou o primeiro milagre de Roque Santeiro. Em decorrência disso, todos achavam que ela deveria se dedicar ao convento, sendo aquele um sinal divino.

Fonte: UOL

Porém, ela deu novo rumo à sua vida, se casando com Zé das Medalhas (Armando Bógus), que vive reprimindo sua esposa, tornando-a uma prisioneira, mesmo que apenas de desejos. Juntos eles têm dois filhos. Com o tempo,  Lulu se rebela e sai pela cidade se envolvendo com vários homens, como com o ator Roberto Mathias. 

Fonte: Memória Globo

A disputa religiosa.

Dentro da Igreja de Asa Branca acontece uma das maiores rivalidades da cidade. Como uma forma de abordar uma temática da época, a divisão da Igreja Católica entre os tradicionalistas e adeptos da Teologia da Libertação, a novela trazia dois padres, cada qual com uma forma de pensamento. Padre Hipólito (Paulo Gracindo) era um padre tradicional, que apoiava a farsa a respeito do falso santo, com o intuito de não perder fiéis. 

Fonte: Memória Globo

Do outro lado, estava padre Albano (Cláudio Cavalcanti), que apoia a verdade e é contra o regime de padre Hipólito; além de ser tido como "padre comunista" pelos tradicionais da cidade. Ele acaba se envolvendo com Tânia (Lídia Brondi), filha rebelde de Sinhozinho Malta. Mas com o tempo, eles vão se perdendo, ela fica com Roberto Mathias, mas também termina com ele. Ao final da trama, padre Albano termina sozinho justificando para Tânia seus motivos: "Sem a Igreja, sou como um soldado sem Exército". 

Fonte: Memória Globo

Sexus.

Grande amiga de Sinhozinho Malta, Matilde (Yoná Magalhães), chega na cidade para causar a discórdia da população religiosa feminina. Ela abre um centro noturno de lazer para os homens de Asa Branca, causando um novo rebuliço na pacata cidade. Na companhia de suas fieis escudeiras, Ninon (Cláudia Raia) e Rosaly (Ísis de Oliveira), ela abre a boate, mesmo que seja contra os preceitos de padre Hipólito e suas beatas. 

Fonte: Memória Globo

Outro momento na vida de Matilde é o retorno de seu marido, o mau caráter Ronaldo César (Othon Bastos). Ele volta para explorar a mulher e se aproveita da situação da inocente Lulu, para se envolver com ela.

Fonte: Yoná Diva da TV

Final digno de Oscar®

O final de Porcina, Roque e Sinhozinho Malta foi inspirado no final do filme Casablanca. Roque embarca em um avião para sair da cidade e preservar a história do falso santo, e ele convida Porcina para ir com ele. Enquanto isso, Sinhozinho fica em solo esperando a decisão da amada. Essa dúvida gerou tanto alvoroço que o último capítulo teve picos de 100 pontos de audiência. Diferente do filme, na novela, a viúva fica em terra firme com Sinhozinho, seu eterno amado e deixa Roque ir embora sozinho.



Fonte: Memória Globo

Curiosidades: Foi a estreia de Dias Gomes no horário das 20 horas, ele sempre escreveu novelas para serem exibidas às 22 horas. Regina Duarte encarava um papel totalmente diferente dos que ela já tinha vivido anteriormente e que tinham consagrado ela como "namoradinha do Brasil". Aguinaldo Silva foi chamado para substituir Dias Gomes no capítulo 41, que voltou a retomar a novela apenas no capítulo 163, pois gostaria de escrever seu final. Por falar em final, foram gravados os dois finais, em que Porcina ia embora com Roque e que ficava com Sinhozinho - o final transmitido. Mas como havia na emissora a ideia de se fazer uma série a respeito da novela, o final teria de ser ao lado de Sinhozinho, alegou José Wilker em entrevista à TV Globo. A novela teve uma primeira versão censurada, em 1975, onde os personagens principais ficavam a cargo de Betty Faria e Lima Duarte; Betty acabou sendo cortada da segundo versão, cujo papel foi cotado para Sônia Braga, Vera Fisher, entre outras, mas acabou com Regina. A atriz Elizângela, que viveria Tânia na primeira versão foi pedir pessoalmente ao diretor para ter um papel na novela, e conseguiu como a esposa de Roberto Mathias. Por conta da censura, a emissora teve de providenciar tudo em cima da hora. O veto ocorreu durante a exibição do Jornal Nacional, no dia da estreia da novela. Foi criada então uma versão compacta de Selva de Pedra, enquanto Janete Clair escrevia uma novela às pressas: Pecado Capital, que deveria conter os mesmos envolvidos no projeto de Roque Santeiro

Fonte: Memória Globo, Teledramaturgia

Trilha Sonora: Uma das melhores trilhas já lançadas, contava com grandes sucessos da MPB e é considerada uma das maiores vendagens em trilhas de novelas. Como já citou o próprio Lima Duarte, não teve uma canção do primeiro disco que não foi sucesso. É até difícil selecionar as representantes desse disco genial, mas elegi duas para ilustrar a trilha. "Dona" foi tema da temperamental Porcina e até hoje é lembrada como a tal; "De Volta pro Aconchego" ilustra outra fase importante da trama, o retorno de Roque, que não era santo, nem nada. Mas vale a pena conferir toda a trilha. 

  1. "Isso Aqui Tá Bom Demais" - Dominguinhos (part. esp. Chico Buarque) (tema de Sinhozinho Malta)
  2. "A Outra" - Simone (tema de Lulu)
  3. "Sem Pecado e Sem Juízo" - Baby Consuelo (tema de Linda e Gerson)
  4. "Chora Coração" - Wando (tema de Mocinha)
  5. "Mistérios da Meia-noite" - Zé Ramalho (tema do Lobisomem/professor Astromar)
  6. "Santa Fé" - Moraes Moreira (tema de Abertura)
  7. "Dona" - Roupa Nova (tema de Porcina)
  8. "De Volta Pro Aconchego" - Elba Ramalho (tema de Roque)
  9. "Indecente" - Anne Duá (tema de Matilde)
  10. "Coração Aprendiz" - Fafá de Belém (tema de Tânia)
  11. "Roque Santeiro" - Sá & Guarabira (tema de locação:Asa Branca)
  12. "Cópias Mal Feitas" - Alceu Valença (tema de Zé das Medalhas)
O segundo disco não fez tanto sucesso assim, mas teve uma repercussão razoável. Eu escolhi para representar a canção "Vitoriosa", porque eu acho engraçada representa a personagem Lulú, tão relevante na trama secundária. 


  1. "Malandro Sou Eu" - Beth Carvalho (tema de Roque)
  2. "Coisas do Coração" - Ritchie (tema de Tânia)
  3. "Pelo Sim, Pelo Não" - Cláudio Nucci e Zé Renato (tema de Sinhozinho Malta)
  4. "Vitoriosa" - Ivan Lins (tema de Lulu)
  5. "Fruta Mulher" - Nana Caymmi (tema de Matilde)
  6. "Verdades e Mentiras" - Sá & Guarabira (tema de locação:Asa Branca)
  7. "Mil e Uma Noites de Amor" - Pepeu Gomes (tema de Linda e Gerson)
  8. "A Hora e a Vez" - Cláudio Nucci e Zé Renato (tema de Porcina)
  9. "Mal Nenhum" - Joanna (tema de Ninon e Delegado Feijó)
  10. "Entra e Sai de Amor" - Altay Veloso (tema de Tânia e Padre Albano)
  11. "Amparito Amor" - Cauby Peixoto (tema de Amparito)
  12. "Mal de Raiz" - MPB4 (tema de Mocinha)
Fonte: Wikipédia, Grooveshark