Amor à Vida: Morte e Vida de Glauce



Ontem foi ao ar a fatídica cena de Glauce (Leona Cavali) em Amor à Vida. Vou me abster de críticas e comentários a respeito dos atores envolvidos nas cenas ou da cena, propriamente dita. Mas vou discorrer a respeito da personalidade da médica durante a trama, farei um apanhado do que foi a vida criada por Walcyr para uma moça tão intempestiva e obsessivamente apaixonada. 
Conhecemos uma Glauce apaixonada, sim, mas com poucos traços de psicopata, que só acabou aparecendo ao longo da história. Mas qual o erro em gostar demais de alguém, em sofrer por um amor não correspondido? Nenhum, pois creio que todos nós já passamos por isso em algum momento da vida. O que fez tornar a personagem um ser violento, sem escrúpulos ou caráter foi basicamente o mesmo fator que destruiu a novela inteira de Walcyr Carrasco: o aumento de capítulos. 








A trama que tinha como propósito terminar em dezembro ou janeiro, foi estendida em mais um mês; para isso, era necessário que se criassem novas histórias, novos vilões e mocinhos – já que os atuais não estavam cumprindo seus papeis, praticamente sumindo por uns capítulos da novela. E Glauce foi uma dessas peças chaves, que se uniu ao vilão mor (até então) da trama para infernizar a vida de Bruno (Malvino Salvador) e Paloma (Paolla Oliveira). A questão é: Glauce já seria, desde o princípio, uma pseudo vilã? Aquela morte planejada da esposa de Bruno já estava pensada na sinopse? Temos nossas dúvidas, pois vimos tantos personagens ganhando novas facetas ao longo da história que não sabemos mais se o autor já tinha em mente as histórias ou está encaixando dramas e dilemas para dar a sustentabilidade (já perdida) à novela. 
Glauce sumiu durante o meio da história, depois que ela se uniu ao Félix (Malvino Salvador) com o intuito de barrar a descoberta da história de Paulinha (Klara Castanho). Na realidade, o que Walcyr fez com ela foi guardá-la na geladeira para usá-la na hora certa. A história do prontuário tomou novos rumos; ele estava guardado com o objetivo de ninguém descobrir a morte do filho de Bruno, para que ele ficasse com a guarda de Paulinha; o autor se aproveitou de tal situação e criou a história do crime passional, digamos assim, em torno do mesmo prontuário. Coisa de gênio? Coisa de autor em síncope com a notícia de que terá de aumentar sua novela? Nunca saberemos, mas a verdade é que Glauce conseguiu sair da novela em grande estilo. Uma cena típica de clichês mexicanos tornou a morte da médica mais cômica do que dramática, porém, um momento icônico que ficará na mente de quem acompanhou essa novela tão questionável. 
E ela acabou sendo mais uma figura ilustre dessa obra que partiu do verossímil para o maniqueísmo escrachado. De uma médica comum, rejeitada pelo homem amado a uma louca descompensada que construiu um passado demoníaco baseado em um presente irregular. Eis que chegou ao fim mais uma peça desse xadrez irregular jogado por Walcyr Carrasco, onde o mocinho pode se tornar vilão de uma hora pra outra; onde as pessoas comuns, típicas de nosso cotidiano, passam a ter atitudes descompensadas, típicas de folhetim.