Très Chic em São Paulo.


Não é de hoje que as tramas em São Paulo causam certo furor, ao mesmo tempo que uma estranheza ao público, tão acostumados ao calor despojado do Rio de Janeiro. As novelas em São Paulo sempre trazem personagens mais frios, racionais, e porque não dizer, mais chiques. Cariocas e amantes do Rio que me desculpem, mas a verdade é que a moda tem muito maior destaque na capital paulista. Talvez por ser um dos principais polos mundiais desse mundo, São Paulo constrói personagens, muitas vezes, mais inesquecíveis pela indumentária do que pelas atitudes, propriamente dita. Vamos relembrar grandes momentos da moda na terra da garoa. 


Na extinta TV Tupi, uma trama chamou atenção pela temática mais contemporânea nos idos de 69: Beto Rockfeller. A saga do vendedor de uma loja de sapatos que consegue se passar por primo de um magnata norte-americano, rendeu bons frutos para a emissora. A alta sociedade paulistana foi retratada através da personagem Lu (Débora Duarte), garota mimada que vive um grande amor com o falso milionário. Anos depois, foi a vez da Globo apostar nas novelas em São Paulo, sempre idealizadas por Cassiano Gabus Mendes. Dentre suas obras mais relevantes, uma que merece destaque no ramo é Ti Ti Ti, que tinha como ponto chave o mundo da moda. A novela ganhou remake em 2010 e não poupou esforços em trazer personagens sempre bem vestidos, mesmo que estejam num jantar informal na própria casa. Os personagens jovens da trama original traziam um estilo mais adequado ao dia-a-dia, como roupas mais despojadas, porém sempre chique. O estilo dos anos 80, com estampas geométricas, ombreiras e cabelos modelados nos icônicos permanentes. Val, vivida na primeira versão por Malu Mader era um dos destaques com um pseudo mullet; a personagem na segunda versão ganhou um estilo mais rebelde e sóbrio, sem muitas cores, foi vivida por Juliana Paiva, em sua estreia na TV.




Agora, falar em São Paulo e não citar Sílvio de Abreu seria mais do que uma heresia da minha parte. Do brega com luxo, ele conseguiu trazer uma São Paulo mais próxima dos telespectadores. Em Rainha da Sucata, que está sendo reprisada pelo Canal Viva, vemos uma Maria do Carmo (Regina Duarte) cafona, usando e abusando de cores fortes e elementos que complementava qualquer figurino mais ousado da década de 90. Em contrapartida, vemos uma Laurinha Figueroa (Glória Menezes) que sempre aposta em ternos mais sóbrios, e echarpes para completar o figurino. Muitos anos depois, o autor se volta exclusivamente ao mundo da moda, na novela Belíssima. A protagonista Júlia (Glória Pires) vivia à mercê das críticas da avó, Bia (Fernanda Montenegro), por não ter conseguido se tornar uma grande modelo, como sua mãe. E para fazer frente a isso, a filha de Júlia, Érica (Letícia Birkheuer) havia se tornado uma modelo de sucesso. Ela inclusive teve destaque dentre os figurinos da trama. Agora, superação o autor teve quando criou a personagem Melina (Mayana Moura), de Passione. Aliás, não sei se o mérito foi dele ou da equipe de produção, mas ela se representou dignamente um mix de androgenia e classe, que além de marcar sua personagem, acertou em cheio com a personalidade de Melina. Se muitos criticaram, outras amaram. Desde o corte ousado de cabelo, até as unhas pintadas internamente, tudo virava notícia quando se referia ao figurino de Melina Gouvêa. 


João Emanuel Carneiro, anos antes havia também criado uma personagem que criou burburinhos com seu estilo de ser, Alícia (Thaís Araújo). Trazendo uma franja bem cortada e um cabelo alisado sempre intacto, a moça ousava no que se referia aos modelitos. De casacos de pele a trajes em couro, a moça foi um dos destaques de A Favorita.


Atualmente no ar, temos duas tramas em São Paulo e com personagens que dão o que falar. Sangue Bom que relata o mundo das (pseudo) celebridades, apostou numa it girl que nunca peca no figurino. Amora (Sophie Charlotte) pode ser insuportável, mas que suas roupas beiram a perfeição no quesito "fina e elegante", isso ninguém pode negar. O figurino da personagem se tornou inclusive um dos maiores sucessos da emissora, liderando a lista de pedidos referentes a produtos da novela, como afirma a Revista Caras.


Agora se o pedido é ser sóbrio, como a capital paulista, Amor à Vida acerta em cheio. A novela usa e abusa dos tons escuros e acinzentados (inclusive na fotografia da própria novela). Mas além disso, ela traz personagens que nunca pecam nos modelitos - quando digo isso, me refiro ao núcleo endinheirado da trama. Desde a secretária dissimulada, sempre impecável, até o vilão afetado, com seus ternos slim. E nesse meio nos deparamos com tipos clássicos, como a falecida Nicole (Marina Ruy Barbosa), as eternas peruas que perambulam pelas esquinas dos Jardins, como Pilar (Susana Vieira). Agora, duas personagens gritam no que tange à audácia em se vestirem: Patrícia (Maria Casadevall) e Edith (Bárbara Paz). A primeira, do setor jurídico do hospital, já vestiu de tudo um pouco, como a famosa estampa listrada ou blusas que remetiam aos temidos anos 80, tudo sem medo de ser feliz. A segunda, faz a linha andrógena com blazers, macacões e couro, quase sempre em tons branco e preto.


Bom, esses palpites foram mais reflexos de percepção, já que eu não sou dos mais entendidos em moda. E também deixo claro, que não quis ferir os cariocas, nem alegar que eles se vestem mal, mas acho que a própria atmosfera de São Paulo faz com que os personagens tenha um estilo mais fechado, que acabando beirando - mesmo que às vezes acidentalmente -  o chique. Claro que tiveram muitas outras novelas rodadas na capital paulista com personagens tão importantes para o mundo da moda, quanto estes que citei, mas preferi me reduzir aos que eu considero mais interessantes.