O espiritismo nas telenovelas.


Segundo Morel Felipe Wilkon, dono do blog que discorre sobre espiritismo, Espírito Imortal, o Brasil é o país com maior quantidade de adeptos dessa religião, com mais de dois milhões de pessoas declarantes, e um grande número e simpatizantes. E não é de hoje que tal assunto é abordado na teledramaturgia, seja com ênfase em protagonistas ou nos meros coadjuvantes. Nos tempos da extinta TV Tupi, Ivani Ribeiro causou certo alvoroço, quando lançou a novela A Viagem, se tornando a mais famosa sobre o tema. Confira a instigante abertura da primeira versão:




A história de amor de Diná (Eva Wilma/Christiane Torloni) e Otávio Jordão (Altair Lima/Antônio Fagundes) foi uma das mais vistas, tanto na versão original, quanto no remake de 1994. Mas muito além desse amor, vindo de outras vidas, a trama retratou o drama de Alexandre (Ewerton de Castro/Guilherme Fontes), que se mata no presídio e vai para o vale dos suicidas, de onde passa a infernizar a vida de todos na Terra. A autora não poupou esforços para tratar do assunto, do qual ela se baseou na doutrina kardecista e contou com a ajuda do professor Herculano Pires, um dos maiores especialistas dessa doutrina. Ela tratou de todos os assuntos do gênero, como a mediunidade, contato entre vivos e mortos, possessões, etc. Como citado anteriormente, é uma das novelas consideradas melhores no que se refere ao espiritismo. Veja a última cena do remake de 1994:




Outra novela que ganhou versão atualizada, porém sem grande repercussão quanto à primeira, foi O Profeta. A trama que conta a história de Marcos (Carlos Augusto Strazzer/Thiago Fragosos), um homem que tem o dom da clarividência, mostrava vários espíritos atormentados em busca de vingança, como Camilo (Malvino Salvador), ex da amada de Marcos. O remake inclusive abordou casos de contato entre vivos e mortos, através da personagem Hilda (Ana Lúcia Torre). Fato curioso ou proposital, foi que a Rede Globo transmitiu a reprise de A Viagem no Vale a pena ver de novo, justamente meses antes da estreia de O Profeta.
Janete Clair também usou do espiritismo pra contar a história da marroquina Luana Camará (Regina Duarte), na novela Sétimo Sentido. A moça que vem reaver uma fortuna no Brasil, sem progresso retorna à sua terra natal, Casablanca, onde começa a assumir mediunicamente a identidade de uma atriz italiana, Priscila Capricce. Interessante saber que a trama só conseguiu engrenar depois da personagem passar a encarnar o espírito da tal atriz, já que antes ela mantinha números irrelevantes de audiência e uma história considerada morna. 
E por falar em novela de pouco sucesso, Walther Negrão, que sempre recorreu à trama de aventuras, em 1996, se volta para o lado espírita. Talvez o tenha feito por conta do, então recente, sucesso do remake de A Viagem, exibida dois anos antes. Anjo de Mim contava a história do cético Floriano (Tony Ramos), que através de uma regressão que foi amante de Valentina (Carolina Kasting) em outra vida e antes de morrer, ela lhe prometeu encontrar futuramente. É quando o rapaz passa a viver incessantemente em busca da reencarnação de Valentina. Apesar de pouco recorrente em suas histórias, o autor Walthr Negrão é espírita.

Regressão na novela Anjo de Mim

Em Jorge Amado também reside o espiritismo. Em 1998 foi lançada a minissérie Dona Flor e Seus Dois Maridos, baseada na obra do autor baiano. A trama conta a história de Flor (Giulia Gam), que passa a se relacionar com seu falecido marido, Vadinho (Edson Celulari). De um jeito mais descontraído, a trama mostra a relação entre vivo e morto. Em outra minissérie, um espírito também pairava, mesmo que não sendo considerada o ponto forte da trama. A Casa das Sete Mulheres, trazia Estevão (Thiago Fragoso), morto em combate que reaparece para sua amada, Rosário (Mariana Ximenes).

Naquele mesmo ano de 2003, de exibição da citada minissérie acima, Manoel Carlos tocava primeiramente no assunto. O autor que sempre esteve acirrado com as tramas voltadas para o cotidiano e para o realismo, considerava o assunto do espiritismo através da personagem Fernanda (Vanessa Gerbelli), em Mulheres Apaixonadas. Páginas da Vida narrava a história de duas crianças gêmeas separadas após a morte da mãe, porque a avó abdicou da neta com Síndrome de Down. E o espírito dessa vez vinha amedrontar mesmo, acendendo o fogão sozinho e fazendo barulhos pela casa. A moça que morre por uma bala perdida, passa a aparecer para a filha Salete (Bruna Marquezine), mas antes disso, a menina teve de lidar com a aparição de um anjo, que podia ser considerado mais mórbido do que acalentador. Em sua próxima trama, o autor volta a tratar do assunto pela personagem de mesmo nome, Fernanda (Fernanda Vasconcellos). A trama de
Mas um ano antes dessa novela, em 2005, foi a vez de Walcyr Carrasco escancarar a temática espírita através de Alma Gêmea. A novela que retratava a vida de Rafael (Eduardo Moscovis), que perde a esposa por conta de um assassinato, reencontra o amor nos braços da índia Serena (Priscila Fantim). Não tão simples assim, mostrava a luta da moça para ir até "Sa Paulo" em busca de algo que ela mesma desconhecia, mas que se tratava de seu espírito, que estava intimamente ligado ao de Rafael. A história, que trouxe gafes no âmbito do espiritismo e reencarnação, é considerada a maior audiência do horário das seis, quando chegou a bater a novela das sete (Bang Bang) e a das oito (Belíssima). O autor voltou a tratar da temática agora, na atual novela das oito, através da personagem Nicole (Marina Ruy Barbosa). Oscilando entre o puro e o medonho, a moça aparece vestida de noiva ao som de "Clair de Lune". Sem muito êxito na história, rendeu uma das cenas de passagem de vida para a morte, mais bem feitas da TV brasileira, no sentido técnico.

Serena e o espírito de Luna, que ela encarnou.

No mesmo ano de exibição de Alma Gêmea, Glória Perez abordou de forma mais sucinta, a temática da experiência de quase-morte (EQM), vivida pelo protagonista Tião Higino (Murilo Benício), em América. Após cair do temido boi bandido, o personagem entra em coma, tem a visão de Nossa Senhora Aparecida, passa a ver seu próprio corpo no leito do hospital. E as experiências não paravam por aí, ao longo da trama, ele caminhou por um túnel, viu imagens de sua infância e encontrou seu falecido pai.

Tião durante a experiência de quase morte (EQM)


E por fim, Elisabeth Jhin que descobriu sua receita de sucesso no espiritismo. A autora que havia emplacado a fracassada Eterna Magia, voltava às tramas contemporâneas abordando a vida após a morte. Escrito nas Estrelas foi a primeira aposta da autora a abordar o tema na história principal. A curta relação de amor em vida dos personagens Daniel (Jayme Matarrazzo) e Viviane (Nathália Dill), interrompida por um acidente culminando na morte do jovem rapaz, dá início à trama. Passando a crer no amor de Viviane pelo falecido filho, Ricardo (Humberto Martins) escolhe a moça para gerar um neto para ele, através da inseminação artificial. O espírito de Daniel se revolta quando percebe que o pai está se interessando pela jovem moça, até que no final da trama, ele reencarna como filho de Viviane. Foi abordada também a questão das vidas passadas, quando Ricardo descobre que Viviane foi Valentina, seu grande amor numa vida passada. Recentemente, a autora lançou outra trama que abordou essa e outras várias questões da temática espírita, Amor Eterno Amor. A história era sobre o menino tirado da mãe, Carlos (Gabriel Braga Nunes), que ainda criança descobre o verdadeiro amor. O tempo passa e ele nunca se esquece dela, que no final, descobre ter encarnado em Míriam (Letícia Persilles). A trama foi abrangente, pois tratou de questões como kardecismo, paranormalidade, possessão, crianças índigo, EQM, anjos, vidas passadas, entre outros temas.

Espírito de Zenóbio inferniza a vida de sua assassina Melissa


Entre falhas e acertos, o espiritismo tão recorrente nas novelas, aguça a curiosidade dos telespectadores. Sem o propósito de informar, teve histórias surpreendentes, que mesmo quando parecem estar 'batidas', voltam com força. E se causa revolta nos céticos, sacia as necessidades de quem crê. Mesmo que elas abranjam, creio que o espiritismo esteja além da simples transmissão, seja algo mais sensitivo. Num mundo tão ceticista, talvez abrir os olhos para o novo seja a solução e questionar menos as coisas, seja uma forma de evoluirmos mais como pessoa. Para deixar claro, não sou espírita, apenas um mero simpatizante, assim como não tenho amplos conhecimentos do assunto, logo estou aberto a criticas.