Acima do bem e do mal: Os personagens de "Amor à Vida".


Nesses últimos tempos, tenho percebido que a atual trama das nove tem os personagens mais 'humanos' dentre as novelas exibidas. Porquê?! Simples, eles não são apenas mocinhos e vilões, eles cometem erros, acertos e a 'maldade' da novela acaba caindo de mão em mão dentro da trama de Walcyr Carrasco. Até agora, a única personagem que não mostrou humanidade foi Leila (Fernanda Machado), que desde o princípio se mostrou mais afeiçoada ao dinheiro do que a qualquer coisa na vida. Se ela alega que ama Thales (Ricardo Tozzi), percebemos que o 'amor' dela é algo apenas carnal, nada mais do que o físico gritando. Ao contrário da companheira, Thales aceitou a proposta indecente alegando ser por puro amor à Leila; e ao longo da história percebemos que ele criou certo carinho pela moribunda Nicole (Marina Ruy Barbosa). 


Quanto ao dito grande vilão da trama, Félix (Mateus Solano), vimos seu olhar superior se desmanchar diante de nossas vistas, quando sua real sexualidade foi descoberta pela família Khoury. Ele se mostrou frágil e indefeso, apesar de sempre manter uma carcaça de aço, impedindo que qualquer pessoa se aproximasse dele e descobrisse seus reais sentimentos. Percebemos também um jeito amável no rapaz, em sua relação com o Anjinho (Lucas Malvacini), pela maneira como eles se comunicavam. Mas o autor soube dar o tom da história, pois mesmo demonstrando seu lado mais humano, Félix não foi o melhor pai do mundo da noite pro dia. Ele foi atrás de Jonathan (Thalles Cabral),para esclarecer ao filho sua situação e num simples abraço, eles se entenderam. Nada de grandes palavras, nada que fizesse ele ser o 'paizão do ano', mas que demonstrou seu (pouco) afeto pelo filho. 


César (Antônio Fagundes), que até então se mostrava um pai imparcial, que parecia não gostar do Félix por sentir de longe a má índole do rapaz, mostrou sua verdadeira face no momento em que o filho mais precisou de apoio. E César se mostrou irredutível diante da situação do filho, fazendo com ele voltasse com a esposa Edith (Bárbara Paz), mesmo que apenas por aparência. Além disso, o patriarca da família Khoury teve suas infinitas 'puladas de cerca', seja com Mariah (Lúcia Veríssimo), com Aline (Vanessa Giácomo) ou com outras que aparecerão ao longo da trama. Mesmo perdoado por Pila (Susana Vieira), ele não conseguiu parar, levando a crer que ele tem algum distúrbio, porque isso não é comum, Sr. César! Enfim, entre o bom e o ruim, ele ficou no meio do muro. Foi um bom pai para Paloma (Paolla Oliveira), dando-lhe todo auxílio na luta para encontrar sua filha, mas foi um péssimo pai para Félix, e um marido horrível para Pilar. Além de haverem boatos que ele foi o culpado por Mariah estar em uma cadeira de rodas e pela possível morte dos pais de Aline. 


Aliás, falando em  Aline, percebemos que a moça se diz disposta a vingar a morte de seus pais e a crise pela qual passou no passado, graças ao César. Mas a maneira que ela pretende não é das mais legais do mundo, tentando roubar o hospital do milionário. Você condena ou absolve Aline do título de maquiavélica das nove?


Paloma é outra personagem que, entre um aceso de 'loucura' e outro, demonstra ser uma pessoa capaz de tudo pra ter o que quer. Sempre bancando a boa moça, ela já causou o desgosto da família, ao engravidar de um andarilho e ter o bebê em bar qualquer do centro de São Paulo. Quando viu que Paulinha era sua filha, não balanceou a situação e simplesmente 'sequestrou' a menina. 


Ainda no núcleo da família Khoury, porque não falarmos de Edith, a esposa traída de Félix. Ela flagrou o marido uma vez, chorou, disse que ia se separar, mas não passou disso. Anos depois, a mesma situação fez com que ela simplesmente esbravejasse pros quatro cantos sua raiva do então marido. E pra melhorar, ela traiu o marido com o mordomo da casa, na própria cama e ainda escancarou tal fato na cara de Félix. De 'mosca-morta' a grande vingativa, Edith se superou. 


Seguindo a mesma linha, está Glauce (Leona Cavalli), que é apaixonada por Bruno (Malvino Salvador), e por ele é capaz de qualquer coisa. A moça que começou a novela sonsa se tornou uma mulher sem caráter, praticamente uma assassina. Mas no fundo, ela é assim mesmo ou é só uma fase?! 


E já que estamos falando das moças, porque não falar de Bruno, que foi considerado banana na história. Mas pra mim, ele está acima disso, afinal teve personalidade suficiente para enfrentar Paloma nos tribunais, sem nem titubear (se fosse Théo, ia chorar e pedir leitinho pra mamãe). Além do mais, ele escondeu de todos que encontrou Paulinha na caçamba, alegando até o fim que ela era realmente sua filha. Isso é atitude de mocinho que se preze?! 


Ainda na família de Bruno, temos seu irmão, Luciano (Lucas Romano). Ele sempre com aquela carinha de bom moço, parecendo estar mesmo envolvido com a enfermeira Joana (Bel Kutner), até semana passada era tido como o genro que mamãe pediu a Deus. Porém, depois que declarou para Bruno que é capaz de se envolver com a moça, pensando na poupança (no sentido literal) da enfermeira, ele passou a ser visto com outros olhos. 


Outra que passamos a questionar o caráter foi Amarilys (Daniele Winits). Ela se dispôs a engravidar de um filho para Niko (Thiago Fragoso) e Eron (Marcelo Antony), porém acabou se envolvendo com o segundo. Inclusive propôs que eles tentassem do jeito tradicional, gerar uma criança. Isso que ela se dizia amiga de infância de Niko. Mas nem por isso ela é vilã, afinal ela apenas se envolveu com o rapaz, que alegou pra ela mesmo que já tinha se envolvido com mulheres antes. E muito pelo contrário, a moça é uma ótima amiga para Paloma e foi super legal em aceitar ser barriga de aluguel para o casal homossexual da trama. 


No time dos 'fazendo volume na novela' temos Dr. Michel (Caio Castro) e Patrícia (Maria Casadevall). Ele é o típico mulherengo cafajeste, que entra na linha de personagens de personalidade duvidosa. Ele se diz apaixonado por Patrícia, mas ao mesmo tempo, parece ainda envolvido pela ex-esposa, Sílvia (Carol Castro). E pra fechar, o núcleo de humor que nos leva à dúvida também. Valdirene (Tatá Werneck) sempre se mostra apaixonada por Carlito (Anderson Di Rizzi), mas o fato de o homem não ter posses faz com que ela não se envolva com ele. Sempre na tentativa de lucrar em cima de um homem rico, ela seria considerada uma ambiciosa de marca maior. Mas graças ao seu jeito cativante, ela se tornou apenas uma 'piriguete' tentando se dar bem, com enormes frustrações, diga-se de passagem. 


Pois é, a verdade é que os personagens da novela Amor à Vida entram na linha da personalidade forte. Estão longe de ser pessoas de carne e osso - comum em personagens de Manoel Carlos -, mas eles são 'gentem como a gente'. Sofrem, riem, brigam por coisas que consideram melhores para eles, fazendo maldades e boas ações, quando precisa, amam, odeiam, ou seja, estão acima do título de mocinhos e vilões.