A emoção que faltava em "Amor à Vida"


Ontem foi ao ar mais um capítulo de Amor à Vida. Claro, já suspeitávamos que não seria apenas mais um mero dia dentro da história de Walcyr Carrasco, graças ao término agitado de quarta-feira. Enfim, a real sexualidade de Félix foi revelada em plena mesa de jantar (mesmo estando estampada em neon na testa do vilão). 





Apesar de toda a balbúrdia da cena, esta poderia entrar para a história como mais um dos grandes momentos da dramaturgia brasileira, pelo simples fato de que os atores foram esplêndidos. Mas, particularmente, pela primeira vez na vida, Walcyr foi além de um texto típico de novelão, com grandes revelações e vários pedaços de 'torta de climão'. Ele conseguiu passar todo o afeto de uma mãe nas falas de Pilar, e claro que nada seria tão bom, não fosse o fato de Susana Vieira simplesmente ter sido perfeita em sua atuação. A verdade é que a cena doeu e mexeu com muitos homossexuais em suas casas, que passaram (ou podem vir a passar) por tal momento nas suas vidas. Os comentários no Twitter mostravam isso, considerando o fato de que muitos jovens estariam constrangidos diante dos pais, na sala de TV. E é a mais pura verdade! Eu mesmo, não sabia o que falar, como reagir, apesar de estar totalmente cativado pela grande cena, tão bem escrita e perfeitamente dirigida. 


Outro grande momento foi na hora em que Félix procura o mãe, mostrando a disparidade na reação dos pais com relação à homossexualidade do vilão. O pai sempre rígido e machista, soltou frases clichês, mas que representaram fielmente a mente de um pai 'machão' ao descobrir ter um filho gay. Contrário ao seu pai, ele teve o apoio não só da mãe, mas também da avó, irmã e filho - apesar dele escorraçar Jonathan -; e hoje terá o apoio da 'comparsa' Glauce. 


A verdade é que poucas vezes, se pôde ver na teledramaturgia, cenas tão emocionantes (pelo menos ao meu ver), como a exibida na última noite. Fã nato de Manoel Carlos, eu acreditei que somente ele pudesse ter momentos como esse nas suas novelas, até o momento em que me descobri apaixonado por Lícia Manso (autora de A Vida da Gente), que tocou fundo, com uma das mais perfeitas novelas das seis, na minha opinião. Walcyr teve grandes momentos para mostrar seu lado mais emotivo, como na própria história de Paloma com Paulinha. Mas acho que o autor perdeu grandes oportunidades, onde a atriz mirim teve mais destaque do que a própria Paolla Oliveira. Sem contar na falta de expressão de Malvino Salvador, que garantia também grandes momentos de emoção na trama, mas se tornou mais uma alface a ser admirada - muito bem admirada, por sinal. 


O fato é que apesar dos deslizes, dos bordões repetitivos (que deram tão certo em suas novelas das 18 horas) e de tantos outros pecados não permitidos às 20 horas, Walcyr está conseguindo criar uma novela inesquecível. Não digo isso somente pelo fato de esta vir depois do grande fiasco que foi Salve Jorge, mas digo por conta dos grandes momentos, dos ótimos personagens (algumas vezes, pouco aproveitados) da trama e da história cativante, mesmo quando tudo parece perdido - como no caso do vilão Félix, que parecia não ter mais salvação na vida no que diz respeito ao lado emocional.